quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Por que o ensino médio precisa mudar?

Porque o modelo brasileiro é um exemplo mundial de atraso.

O ensino médio não só não avança – enquanto outros no mundo disparam – como, sim, consegue ainda a proeza de retroceder (Margarida Neide / Folhapress/VEJA) (Margarida Neide / Folhapress/VEJA)

Por Monica Weinberg  22 set 2016, 15h00 - Atualizado em 22 set 2016, 16h55

Jabuticaba, nome científico Plinia cauliflora, virou sinônimo de coisa brasileira. Na educação, o Brasil tem uma jabuticaba de gosto amargo: chama-se ensino médio. Nenhum país ousou fazer nada parecido. Ele é único no mundo. É ao mesmo tempo enfadonho, engessado, massacrante e excludente. A metade dos que ingressam nele o abandona pelo caminho. Os que ficam até o final saem sabendo muito menos do que deveriam. O ensino médio brasileiro está no topo, e que topo: o dos piores do planeta.
Publicidade
Ano após ano, os números confirmam que a nossa Plinia cauliflora leva ao fracasso. Um dado é suficiente: o ensino médio não só não avança – enquanto outros no mundo disparam – como, sim, consegue ainda a proeza de retroceder. Na década de 90, os formandos do ensino médio dominavam o equivalente a um ano a mais de matemática em comparação com seus colegas de século XXI.
O modelo em vigor se baseia na ideia do igualitarismo: um mesmo ensino para todo mundo garantiria a paridade de oportunidades. Pois é justo o contrário o que acontece. Isso porque a premissa é distorcida. As pessoas não sãoiguais em seus interesses, motivações e aptidões. A falta de alternativas, portanto, mais expele do que inclui. O ensino médio monolítico ceifa oportunidades no lugar de ampliá-las. E não custa lembrar: é uma invenção nacional. Por que não olhar para o que dá certo?
A atual reforma não pretende recriar a roda. Ela sugere uma base única essencial para todos e permite que, a partir daí, cada um possa percorrer uma trilha com a qual mais se identifique. Quem tem pendor para as humanas não vai mais precisar se perder nos labirintos da química orgânica. Quem prefere as ciências não terá necessariamente de estudar história. Embora possa. E deva. Cada jovem montará o seu percurso dentro da escola, já considerando, inclusive, o próximo passo na vida adulta. Até optar pelo ensino técnico, para o qual muitos acadêmicos torcem o nariz apesar de ter alçado economias às alturas, será uma possibilidade.
Não custa enfatizar: já funciona assim há tempos em países que abrilhantam os rankings da educação, como Austrália, Canadá e Inglaterra. Chega de jabuticaba!

Nenhum comentário:

Postar um comentário