domingo, 18 de setembro de 2016

Especial - Gestão Escolar

Países líderes em avaliações instam diretor a se concentrar na pedagogia


Uma gestão em nome do aluno e focada na pedagogia é o modelo adotado nos países que têm obtido melhores resultados em educação tanto em rankings internacionais de desempenho quanto na revalorização da escola por comunidades locais.

Esta visão equipara sistemas educacionais de países muito diferentes entre si do ponto de vista cultural e da organização política e social.

"Nada mais diferente do que os governos do Canadá e da China, por exemplo, mas os modelos de gestão escolar são parecidos. Nos dois países, o diretor é o gestor da pedagogia, a burocracia só está a serviço disto", afirma Gisela Wajskop, diretora da Escola do Bairro e pós-doutoranda no Formep, programa de formação de professores da PUC-SP.

"Em Xangai, o diretor conhece cada um dos alunos, lê os planos de aula e entra na sala para ver os professores lecionando", conta Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial, professora visitante na Universidade Harvard (EUA) e colunista da Folha.

FORMAÇÃO

O investimento na formação dos diretores é outra característica de modelos internacionais de gestão escolar considerados exemplares.
Wajskop, que também é pesquisadora associada do Oise (Ontario Institute for Studies in Education), conta que na província canadense de Ontário os educadores passam por escolas de formação geral e por uma especialização. Para trabalhar na gestão, precisam cumprir mais uma formação, equivalente à pós-graduação.

É o modelo usado na Finlândia. "Quando a Finlândia fez sua reforma educacional, na década de 1980, profissionais de Ontário foram ao país europeu dar consultoria e ser parceiros no projeto. Agora, são os finlandeses que estão dando consultoria aos canadenses", conta Wajskop.

Trabalhar em parcerias é uma característica de gestão também explorada por países como Inglaterra e Romênia, entre outros.

"Em Londres, colocam em pares diretores de escola de desempenhos fraco e forte com características socioeconômicas similares. As duas equipes de gestão trabalham juntas para elaborar planos educativos melhores", exemplifica Costin.
O trabalho colaborativo entre toda a equipe escolar e a comunidade é outro aspecto muito valorizado hoje.

"O gestor é quem faz o meio de campo, atrai a comunidade e mobiliza os professores", afirma Fernando Abrucio, especialista em políticas educacionais e gestão pública, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

PROFISSIONALISMO

A profissionalização da gestão escolar, iniciada na década de 1980, ganha no século 21 novas nuances, principalmente em países em que a capacitação dos diretores já garante essa abordagem profissional, segundo Abrucio.

"O profissionalismo tem um grau de fordismo [sistema de gestão elaborado por Henry Ford no século 20], mas não pode parar nisso. Às vezes o debate trata a gestão escolar como a de uma empresa, mas o diretor não é um CEO, e a escola não é um banco de investimento", diz ele.

A visão atual é a do gestor que chega a essa função por saber desenvolver características de liderança e ter apoio de seus pares (coordenadores, professores), dos alunos e de seus pais.

"O que vi no Canadá foram diretores cooperativos, que trabalham com a equipe como parceiros, não em uma relação de subordinação", afirma Wajskop. 

É preciso considerar aspectos locais para avaliar escola, diz especialista


Pode ser que a educação no Brasil seja melhor do que na Finlândia, frequentemente citada como referência mundial em educação. O problema é que, no Brasil, as escolas têm menos infraestrutura e muitos alunos estão em situação vulnerável -o que não acontece na Finlândia.
Quem diz isso é Miguel Székely Pardo, economista com doutorado na Universidade de Oxford e diretor do CEES (Centro de Estudos Educativos e Sociais) do México. Leia trechos da entrevista.
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Folha - O que, em geral, pode melhorar a gestão na escola?
Miguel Székely Pardo - O elemento crítico no sistema educacional é o líder da escola. Se você tem um bom diretor, normalmente essa escola será boa. Numa escola ruim, mesmo que pais e alunos participem de sua gestão, isso pode não ter um resultado efetivo. Já nas escolas com bons líderes, os pais e alunos são convidados a participar da gestão de maneira efetiva.

Como você define um bom líder de uma escola?
Um bom líder é quem tem objetivos claros, que sabe o que pretende alcançar e envolve a escola toda para atingir esses objetivos, sejam eles acadêmicos ou de outra natureza. Não pode ser alguém que foi colocado nessa posição ou que foi imposto.

Escolas de regiões mais pobres ou violentas devem ter uma gestão diferenciada?
Uma das características de um bom líder é que ele tenha flexibilidade para se adaptar a realidade dos alunos, dos pais e do local em que a escola está inserida.
No caso de escolas de regiões vulneráveis, o líder não deve apenas perseguir bons resultados acadêmicos mas também pensar como conseguirá atender ao tipo de população que ele tem de servir.
É possível achar bons diretores em escolas que não têm bons resultados em exames talvez porque as crianças de lá tenham uma série de desvantagens econômicas e sociais que não ajuda o desenvolvimento escolar.

Que tipo de avaliação considera adequada para definir se uma escola está indo bem?
Um dos grandes problemas da avaliação é que as pessoas tendem a julgar as escolas com base em seus resultados e fazem comparações equivocadas. Se a gente olhar o Pisa [exame que avalia o desempenho em línguas, matemática e ciências em vários países], você verá que a Finlândia [12º lugar no Pisa de 2012] está bem à frente do Brasil [58º] e do México [53º]. Mas comparar a Finlândia com o Brasil é um erro, porque você não está considerando as características locais.
É possível, não sabemos, que a educação no Brasil e no México seja melhor do que na Finlândia. O problema é que, no Brasil, as escolas têm menos infraestrutura e muitos alunos estão em situação vulnerável. Você olha o resultado da Finlândia como evidência de um melhor sistema educacional, mas talvez seja só porque estão em uma melhor condição.
No México, que é uma realidade que conheço, escolas que têm bom desempenho são as que recebem os melhores alunos e têm as melhores condições. Ora, se você colocar os melhores em qualquer escola, provavelmente os resultados serão bons.

Um dos problemas no Brasil e no México é o ensino médio. Muitos alunos largam a escola dizendo que ela é chata e distante da sua realidade...
Eu acho que o gestor das escolas pode conseguir alguns avanços nesse sentido, mas esse problema é macro. Ou seja, os currículos escolares são muito distantes da realidade dos alunos e as escolas têm de seguir os currículos. Bons diretores que têm de lidar com material didático equivocado ficam de mãos atadas. Ou ainda, bons diretores que têm professores de baixa qualidade também não terão muito o que fazer. 

Diretora de escola americana estimula frequência lavando roupa suja


Melody Gunn, diretora da Escola Elementar Gibson, em St. Louis (EUA), queria aumentar os índices de frequência dos alunos. Os estudantes tinham acesso a transporte e almoço gratuito ou a preços subsidiados e mesmo assim faltavam às aulas.

Ela decidiu ir até a casa das famílias com mais de uma criança matriculada na instituição para identificar o motivo que as fazia ficar em casa. Descobriu que era algo tão simples quanto inesperado: roupa suja.

Muitos pais não tinham dinheiro para comprar uma máquina de lavar roupa. E aqueles que tinham a lavadora não podiam pagar pelo sabão e pela energia elétrica.

"O dinheiro deles era contado para necessidades como comida e aluguel", diz Gunn, em entrevista à Folha.

A consequência é que os alunos não tinham peças limpas para ir à escola e desistiam de frequentar as aulas por vergonha.

"Muitos alunos têm apenas um conjunto de uniforme. Se eles o sujavam no começo da semana, simplesmente ficavam em casa até que a roupa pudesse ser limpa", explica a diretora.

Gunn comentou sobre o problema de sua escola com uma amiga que trabalha na Whirlpool, multinacional fabricante de eletrodomésticos. A empresa se interessou pela história e decidiu doar uma lavadora e uma secadora para a escola, além de providenciar todo o sabão necessário.

A diretora reuniu então os alunos com mais de dez faltas no ano e pediu que trouxessem suas roupas para serem lavadas na escola.

A recepção foi positiva. "As crianças amaram as máquinas, diziam que pareciam naves espaciais. Logo, pediram para expandirmos o programa para itens como lençóis e toalhas", afirma Gunn.

As máquinas são operadas por funcionários da Gibson.

PROGRAMA NACIONAL

Após a doação, a Whirlpool decidiu investigar se aquele era apenas um caso isolado. Uma pesquisa com 600 professores ao redor dos EUA apontou que um em cada cinco alunos era afetado pela falta de roupas limpas em casa.

"Nós ficamos surpresos com o alto índice, e também pelo fato de ninguém estar discutindo o efeito disso na frequência escolar", diz Chelsey Lindstrom, gerente de marca da Whirlpool. 

A empresa criou um programa nacional e doou máquinas a outras 16 escolas em distritos de St. Louis, no Missouri, e Fairfield, na Califórnia.

O balanço do primeiro ano do programa feito pela companhia mostrou que 93% dos estudantes melhoraram sua frequência escolar. Entre os casos mais críticos, o aumento chegou a duas semanas, em média. Ao todo, 95% tiveram maior participação dentro da sala de aula e demonstraram maior interesse em atividades extracurriculares.

O plano é expandir o programa para 40 escolas nos EUA até o fim deste ano. Não há projeto de levar a ação para outros países onde a Whirlpool atua, como o Brasil.

"Os números mostram como algo tão simples pode ter um grande impacto não apenas nos estudantes, mas também nos pais e na comunidade", diz Lindstrom. 

Professor deve estar pronto para lidar com administração e políticas públicas


O gestor escolar é um educador, um administrador e o líder da equipe interdisciplinar que trabalha pelo aprendizado do aluno. Segundo especialistas, no entanto, falta tempo, prática e proximidade com a realidade escolar na formação docente. 

É preciso mais para preparar um profissional múltiplo como esse.

"Muitos professores chegam inseguros à escola, sem saber o que um gestor faz. A carga horária é insuficiente para discutir todos os assuntos", afirma Alessio Costa, presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação).

Uma resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação), de julho de 2015, estabeleceu que as licenciaturas de qualquer área, além dos cursos de pedagogia, precisam tratar de tópicos de gestão educacional.

De acordo com Costa, conhecimentos de administração aplicados à gestão escolar, relações interpessoais e políticas públicas precisam estar sólidos para que o gestor resolva problemas nessas áreas de maneira mais eficiente e priorize o ensino.

"Professores de todas as disciplinas devem ter noções da administração de uma escola. Mesmo que não se tornem diretores, ele irão participar da gestão", diz Cesar Callegari, sociólogo e diretor da Faculdade Sesi de Educação, que inicia suas atividades em 2017, em São Paulo.

Maria Cecilia Amendola da Motta, professora de ensino básico e vice-presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), concorda e acrescenta que a capacitação em tecnologia é importante para uma administração mais eficaz.

"Com ferramentas tecnológicas, o gestor consegue otimizar o trabalho do meio, como documentação escolar, compras, grades de horário e matrículas, para focar no fim, que é o aprendizado do estudante", afirma ela.

"Oferecer uma boa formação é possível com o currículo integrado", avalia Cristina Nogueira Barelli, coordenadora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades.

No curso de pedagogia que o instituto oferece, as disciplinas de didática e cultura estão na grade curricular combinadas com matérias de políticas públicas, gestão e planejamento escolar.

"Gestor e professor trabalham para o sucesso do aluno. Algumas habilidades são úteis para a sala de aula e também para exercer cargos de gestão", diz Barelli.

As duas atividades são indissociáveis, diz Motta, do Consed: "O docente é um gestor dentro da sala de aula. Se o gestor não vivenciou essa experiência, não tem como cumprir seu papel".

PRATICAR

"Gestores lidam com questões conflitantes e fazem intermediação entre políticas públicas e a escola", diz Maria Cecília Luiz, professora do departamento de educação da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Ela defende maior articulação entre teoria e prática nos cursos de formação inicial, para ajudar a compreensão dos problemas da escola.

Alessio Costa, da Undime, lembra que a realidade da escola é dinâmica, com mudanças rápidas. 

"Quanto maior o diálogo entre escola e universidade, melhor será a formação, porque as discussões sobre as dificuldades da educação saem da dimensão estritamente teórica e chegam até a sala de aula", diz.

Cartas e artes viram tática contra evasão escolar

O cenário do Colégio Estadual Dona Genoveva Rezende de Carneiro, o único de ensino médio em Itaguari (GO), era o de uma terra arrasada até um ano e meio atrás, diz a diretora Ireni Mota, 55.

Havia banheiros pichados, torneiras e vidraças quebradas. Lixo por todo lado, as salas mais pareciam "um cemitério de carteiras". A evasão chegou a 40% no período noturno. O índice geral de faltas beirava os 30%.

Na cidade que é um dos polos da confecção de lingerie do país, os jovens trocavam as aulas pelas oficinas de costura. "Ou por drogas", afirma a diretora.

Para reverter esse quadro, Mota criou uma estratégia de guerra. Mapeou a cidade e catalogou o endereço de cada aluno que havia abandonado a escola. O passo seguinte foi mobilizar os alunos mais frequentes para que eles chamassem de volta os colegas faltosos por meio de cartas enviadas pelos Correios.

Em uma das correspondências às quais a Folha teve acesso, uma aluna do 3º B escreveu para o colega. "É complicado conseguir um emprego decente sem o ensino médio completo. A sua falta me incomoda, pois quero ver todos os amigos se formarem."

O projeto deu bons resultados: atraiu 10% dos que estavam fora de sala. "Eles tomaram consciência de que, se a evasão crescesse muito, a escola poderia até fechar."

Segundo especialistas, a nova arquitetura escolar exige um diretor mais próximo de sua comunidade. "Aquele que estabelece vínculos, divide responsabilidade, mobiliza, lida com crises, mapeia e traça metas, atinge resultados mais duradouros", afirma Tatiana Belo, especialista em gestão escolar da Fundação Itaú Social.

E leva tempo. No caso da escola Didacio Silva, em Teresina (PI), exatos dez anos.
Em 2005, a unidade viu um ex-aluno ser morto a tiros em uma briga de gangues durante uma feira de ciências. Em 2015, obteve o título de escola com a melhor gestão do Piauí, concedido pelo Ministério da Educação. Como chegou lá? 

"Dançando", afirma Alberto Vieira, 47, diretor do colégio há 11 anos.
Vieira ouviu os alunos e encontrou nas artes o caminho da mudança. "Por meio do teatro, da dança e da música, ensinamos matemática, física e química", diz. O índice de evasão da Didacio caiu de 30% para zero. Em 2015, 80% dos alunos que prestaram o Enem conseguiram uma vaga na universidade.

Mota e Vieira também buscaram capacitação. São crias do Jovem de Futuro, programa do Instituto Unibanco que ensina práticas de gestão a diretores. A ação funciona nas redes estaduais do Piauí, Ceará, Pará, Espírito Santo e Goiás –atingiu 2.500 escolas nos últimos oito anos.

"O programa preenche a lacuna deixada pela universidade que ainda não ensina o professor a administrar uma escola na prática", diz o pedagogo Alexsandro Santos, gerente do instituto.

Diretora da Escola Rio Tocantins, em Marabá (PA), Hellen Nyde, 39, expõe o maior desafio da função: "É lidar com problemas que não dependem da minha gestão. Minha escola ficou um ano sem professor de português em quatro turmas do ensino médio e não pude fazer nada." 

Após protestos, governo de SP estimula criação de grêmios


Incentivar a participação dos alunos no dia a dia da escola tem sido uma das estratégias adotadas pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para tentar acalmar os estudantes que, no ano passado, fizeram uma série de ocupações em protesto à reorganização escolar e à falta de estrutura.

Um dos passos foi estimular a criação de grêmios nas escolas. Hoje, há 20% mais grêmios do que havia em 2015, diz o governo.

A proposta é uma das bandeiras do secretário estadual de Educação, José Renato Nalini, que assumiu no início do ano. À Folha ele disse que pretende modernizar as leis estaduais de educação para instaurar a "gestão democrática nas escolas".

Uma demanda dos alunos –o uso de celular em sala de aula–, por exemplo, deve ser atendida com a alteração da lei estadual que proíbe o equipamento nas escolas. A ideia, diz o governo, é permitir que o dispositivo seja usado "com fins pedagógicos".

"Nem sempre sabemos o que é melhor para os alunos. Queremos ouvir a todos", diz o secretário Nalini.

Por enquanto, a maioria dos grêmios tem organizado campeonatos esportivos e debates sobre política. Na Escola Estadual Maria José (centro de São Paulo), os alunos do ensino médio resolveram discutir a legalidade do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Esse tipo de debate começou neste ano.

"Eu acho que o impeachment foi legal", diz Karolaine Waleska, 16, presidente do grêmio Sibanna Blanth –nome criado pelos alunos.

AULAS VAGAS

O grêmio, diz Karolaine, deixa a escola mais atrativa, principalmente nas aulas vagas. Ela, por exemplo, tem três horários vagos por semana por falta de professor.

O protagonismo dos alunos cresceu, diz Caio Guilherme Santos, 19, presidente da Umes (União dos Estudantes Secundaristas de São Paulo), mas ainda falta muito para que sejam, de fato, ouvidos.
"
Muitas coisas são impostas aos estudantes. É o caso das apostilas. A gente não gosta, queremos as aulas em outro formato", afirma.

Santos, hoje no ensino técnico, conta que terminou o ensino médio sem professor de história. "A gente se acostumou a não ter a última aula às quartas. Hoje, os alunos não aceitam mais isso."

A participação ativa dos alunos na escola também funciona pedagogicamente: "O aluno participativo tende a evadir menos e a ter melhor desempenho", afirma Fernando Abrucio, especialista em educação da FGV. 

Na zona norte, alunos viram diretor por um dia

Desde março, uma escola pública brasileira coloca em prática uma experiência ousada de gestão utilizada na província de Ontário, no Canadá. A Escola Municipal de Educação Infantil Nelson Mandela, no bairro do Limão (zona norte de São Paulo), adotou o programa "diretor por um dia", inspirado no modelo canadense.

"Li um artigo sobre isso na internet e entrei em contato com a autora pedindo ajuda para fazer aqui", conta Cibele Araújo Racy Maria, diretora da Nelson Mandela.

Após conversar com a autora do artigo, a paulistana Gisela Wajskop, pesquisadora associada do Ontario Institute for Studies in Education, a diretora iniciou o projeto, nomeando um diretor por semana em cada uma das 14 salas da escola.

As crianças nomeadas, de quatro e cinco anos, acompanham a rotina de seu grupo e depois participam da reunião de gestores para apontar problemas e sugerir sugestões.

"Para fazer gestão democrática é preciso radicalizar. Gestão solidária parece simples, mas compartilhar poder é dificílimo", diz Racy Maria.

O projeto está sendo adaptado e ampliado. As reuniões, antes diárias, passaram a ser semanais. Agora, os funcionários também passaram a ser "diretores do dia".
As equipes de limpeza e merendeiras entraram na roda. "As respostas são incríveis. Um funcionário sugeriu alterar o horário da merenda em 15 minutos, e isso facilitou muito o trabalho da cozinha", conta Racy Maria.

A ideia agora é chamar pais e moradores do bairro para participarem do programa. "O dono da padaria ou da banca de jornais também é um gestor e pode propor novas soluções para velhos problemas da escola."

Essa é uma prática já adotada nas escolas de Ontario, onde a gestão é muito apoiada pela comunidade, conta Wajskop. "O que garante a continuidade de um projeto de educação é a comunidade", afirma Racy Maria. 

Reuniões e um furto: conheça um dia de trabalho de uma diretora de escola


Segunda-feira, 6h45. Logo os alunos começam a surgir no portão da escola estadual Dom Miguel Kruse, localizada no Jardim Danfer, em Cangaíba, zona leste de São Paulo. Com cerca de 2.000 matriculados, está entre as maiores do Estado.

É quando começa o dia de Ângela Reis Lombardi, 47.

Diretora há 15 anos, formada em matemática e pedagogia e com 29 anos de magistério, ela circula pelo pátio e confere se está tudo bem com os agentes de organização escolar —novo nome para os antigos bedéis.

Mudaram os nomes, mas há anos que a rotina da gestora muda muito pouco. Todo dia, Ângela tem uma agenda apertada tomada por leituras e assinaturas de documentos, reuniões ordinárias com coordenadores, distribuição de circulares, controle de presença, preenchimento de relatórios.

A diretora, que em 2004 ganhou um prêmio do governo estadual por sua gestão —um mestrado na Espanha—, afirma que é sempre assim: "Está tudo planejado, mas, se houver alguma ocorrência, a agenda fica atrasada".

Ocorrências são, por exemplo, pais que vão conversar sobre um problema grave ocorrido com os filhos ou o surgimento, na diretoria, de algum aluno com dificuldades que não puderam ser resolvidas pelo mediador escolar.

Nesta manhã de segunda, nenhum acontecimento exige uma conversa com os pais ou com algum dos quase 700 alunos entre 15 e 18 anos que frequentam o ensino médio no período matutino.

Os cerca de 2.000 alunos da Miguel Kruse são divididos em três períodos. O da tarde é para estudantes do ensino fundamental 2 (6ª a 9ª séries), e o da noite, para o supletivo.

Ângela se dirige à sala dos professores e confere a lista de presença. É quase hora de o sinal tocar um trecho da música "Aquarela", para chamar alunos e professores para dentro das salas de aula.

A diretora tem o primeiro horário da agenda marcado com o vice-diretor do Escola da Família, programa de encontros aos fins de semana com pais, alunos, educadores e voluntários para atividades esportivas e culturais.

Sentada de costas para as duas telas com imagens das áreas da escola (há câmeras em todas as salas, nos pátios e nos portões), ela conversa sobre as atividades. Às 8h40, já está pronta para resolver com a secretária questões burocráticas envolvendo folha de pagamento, férias, faltas e abonos salariais.

Com todas as pendências lançadas no sistema da rede de ensino, Ângela Lombardi parte para o "trabalho de campo". Vai conferir a calha do telhado, trocada para evitar acúmulo de água e focos de dengue. "Se tiver água parada, a escola é multada", diz.

ELEIÇÕES
É a diretora quem inspeciona obras de manutenção predial. A próxima será a reforma do banheiro dos professores.

O compromisso seguinte, a reunião com a coordenação pedagógica, foi adiado para que a diretora possa ser entrevistada por representantes do grêmio sobre um projeto relacionado ao ambiente.

Só às 11h ela consegue encontrar as coordenadoras, que apresentam à diretora projetos como atividades didáticas sobre eleições municipais e calendário de 
provas.

Não há tempo para se alongar em discussões pedagógicas. A diretora tem uma reunião no começo da tarde no TRE —normalmente ela aproveita esse período para voltar para casa e só retorna à escola no início da noite.

Após a reunião sobre as eleições, volta à Dom Miguel Kruse às 18h30. Precisa passar uma circular administrativa aos professores, chamar um substituto para uma docente que adoeceu e conversar com a vice-diretora do fundamental para saber se tudo correu bem na parte da tarde.

Antes, tem que atender os pais de uma aluna furtada por um colega na sala da aula.

O furto do celular foi flagrado pelas câmeras. A diretora explica aos pais da garota que seu papel é passar o caso ao Conselho Tutelar e registrar o furto na ficha do aluno. A família da menina prefere não fazer boletim de ocorrência.

Terminada a conversa, a gestora vai até o pátio, onde ainda há alguns alunos do noturno. Depois do sinal, ela reorganiza a grade de aulas, para encaixar os horários do professor substituto, checa presenças e verifica pendências, num repeteco da manhã, até as 23h, fim das aulas e do expediente. 

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