ANGELA PINHO
Enquanto a ida de alunos brasileiros ao exterior enfrenta obstáculos como o dólar alto e a crise econômica, as universidades do país avançam cada vez mais na internacionalização interna, por meio da oferta de disciplinas ministradas em inglês.
Um mapeamento inédito identificou 671 cursos com aulas no idioma em instituições de ensino superior brasileiras.
O levantamento foi encomendado pelo British Council e pela Faubai (Associação Brasileira de Educação Internacional) e realizado por uma equipe liderada pelo professor Carlos Vergani, da Unesp.
Foram enviados questionários a 270 instituições entre as mais internacionalizadas. Dessas, 90 responderam.
O resultado é um guia de cursos ofertados no idioma no Brasil que será lançado nesta semana. O objetivo da publicação é, principalmente, divulgar a possibilidade de estudar no país para atrair mais alunos estrangeiros.
Segundo as estatísticas mais recentes da Unesco, de 2013, 0,2% dos universitários no Brasil vieram do exterior. No Reino Unido, país exemplo da internacionalização, o índice é de 17,5%.
O guia mostra que a maior oferta de aulas em inglês no Brasil é em cursos de curta duração (62%).
Na graduação, foram encontradas 201 disciplinas e um curso todo na língua –o de administração de empresas da FGV (Fundação Getulio Vargas), iniciado em 2015.
Na pós, foram mapeadas 45 disciplinas e seis programas inteiramente no idioma.
A presença real do ensino em inglês nas universidades, no entanto, é maior do que a retratada pelo novo guia, feito por amostragem.
Segundo o professor Raul Machado Neto, presidente da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional, a universidade tem 31 disciplinas de graduação em inglês e 400 de mestrado e doutorado também no idioma (20% do total da pós; a meta da direção da USP é chegar a 30% no ano que vem).
A universidade liberou no ano passado a oferta de disciplinas optativas apenas em inglês na graduação. Até então, salvo exceções pontuais autorizadas pela reitoria, era preciso oferecer a matéria também em português.
A
umentar a inserção internacional é fundamental para universidades brasileiras melhorarem suas posições em rankings internacionais, lembra Claudio Anjos, diretor de Educação do British Council.
O item é um dos critérios de pontuação adotados pelos dois principais –QS e Times Higher Education.
Na mais recente divulgação do QS, em setembro, a instituição do país com a melhor colocação foi a USP, no 120º lugar do mundo.
Dentro do Brasil, a UFABC (Universidade Federal do ABC) é a que obteve o melhor desempenho em internacionalização, segundo o RUF (Ranking Universitário Folha).
A universidade tem 103 disciplinas em inglês. Segundo o reitor Klaus Capelle, o foco é capacitar o aluno brasileiro para ir a eventos internacionais e ler literatura estrangeira, entre outras competências.
Um dos que dá aulas em inglês ali é o docente de física Marcos Ávila. Ele começou em 2015, por iniciativa própria, mas não proíbe os alunos de responder provas ou fazer perguntas em português. "O que eu avalio é o domínio de física, não de inglês", diz.
Coordenador de graduação da FGV, Nelson Barth também afirma que o objetivo não é ensinar o idioma –por isso, só os alunos que já dominam o inglês podem optar pelo curso. Mas, se algum deles deixar escapar uma palavra em português, vai ficar sem resposta. "Os professores fingem que não entendem", diz.
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