Rosely Sayão
Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação. Escreve às terças-feiras.
As estantes das livrarias estão lotadas de ofertas de livros que prometem ajudar a criança a dormir. Muitos deles estão na seção classificada como "educação" e são dirigidos aos pais; outros, na de "literatura infantojuvenil", para os pais lerem para a criança ou para ela mesma ler na hora de ir para a cama.
Todo mundo sabe que não há receita certa para isso, tampouco fórmula mágica. Mesmo assim, muitos procuram –alguns desesperadamente– maneiras que os ajudem a colocar o filho na cama e fazer com que ele fique lá, de preferência sem resistir, sem acordar no meio da madrugada, sem ir para a cama dos pais, sem chorar. É uma verdadeira batalha!
Não nos demos conta de que, desde a década de 1990, mais ou menos, o período de sono diminuiu, tanto para as crianças quanto para os adultos. Estudos realizados em diversos países apontam uma tendência internacional de redução do sono. Analisando as pesquisas disponíveis, alguns cientistas afirmam que há dados suficientes para concluir que houve uma queda de mais ou menos duas horas no tempo de sono de crianças pequenas e de adolescentes.
Se pensarmos em nossos estilos de vida, fica fácil entender: são tantos os estímulos e escolhas que podem ser feitas que dificilmente tudo caberia no tempo disponível sem encolher o horário dedicado a algo.
No caso dos mais novos, vamos primeiramente considerar o período da jornada dos estudos. Ele tem sido, cada vez mais, estendido: aumentam os horários das aulas e os trabalhos para casa, por exemplo.
Em alguns países, a lição de casa foi abolida, mas por aqui vai ser difícil isso acontecer, porque os pais insistem que é bom e a escola acata essa opinião com presteza, mesmo que considere a questão sem a mesma importância que os pais dão.
Tem mais: crianças e adolescentes ainda têm as aulas e cursos chamados extracurriculares, ou seja, somando as horas na escola e nos cursos extracurriculares e aquelas dedicadas à lição de casa, em alguns casos o total de tempo gasto chega a 10, 12 horas! Vão faltar pelo menos dois tempos preciosos: o de ser criança e o de dormir.
No caso dos menores de seis anos, há o fato de os pais, após sua jornada de trabalho também estendida, desejarem desfrutar, tanto quanto os filhos, da companhia uns dos outros. Resultado? Crianças com menos de seis anos acordadas após as 21h e até as 23h ou 0h em alguns casos. Muitos pais não sabem que, nesse horário, a criança fica cada vez mais excitada, o que irá atrapalhar o recolhimento, ou seja, vai dificultar ainda mais o sono.
Como muitas crianças não sabem ainda reconhecer o estado de exaustão nem a chegada do sono, elas dependem dos pais para tanto. Mas parece que muitos deles perderam a sensibilidade para identificar essas situações nos filhos e os deixam ficar acordados além da conta.
No caso dos adolescentes, há a tecnologia que rouba deles muito do tempo que deveria ser dedicado ao sono. Como dormir antes de terminar aquela fase do jogo, de trocar as últimas palavras com os colegas por meio de mensagens instantâneas etc.? Para eles, impossível!
E é assim, sem perceber, que dormimos menos e determinamos menos tempo de sono aos filhos, e isso faz falta ao bom desenvolvimento deles. Que tal pensar em formas de mudar isso?
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