sábado, 10 de setembro de 2016

Vestibular - Atualidades - Eliminar o carvão gera desafios sociais

ANÁLISE
POR EDUARDO PORTER
SETEMBRO 10, 2016

Não vai ser fácil nos livrarmos do carvão.
Temendo não alcançar a meta de cortar drasticamente as emissões de dióxido de carbono até 2020, a Alemanha propôs uma pesada taxa no ano passado sobre as usinas geradoras mais poluentes. O imposto se destinava a dar um golpe decisivo no linhito, ou carvão marrom, o combustível mais sujo que existe e a principal fonte de eletricidade da Alemanha.
O país se considera um líder no movimento contra a mudança climática. Porém, enfrentando a resistência dos sindicatos e dos governos no país do carvão, Berlim substituiu a taxa por um subsídio de 1,6 bilhão de euros (R$ 5,7 bilhões) para extinguir gradualmente oito usinas movidas a carvão e fechá-las permanentemente até 2023.
Os ambientalistas detestaram. “Em vez de ser multadas por poluir, segundo a nova taxa do clima as fornecedoras vão ser pagas para manter suas mais antigas e ineficientes usinas de linhito em modo de espera”, comentou um relatório da organização ambientalista E3G para a Oxfam.
Essa resistência salienta um desafio ao esforço internacional para reduzir drasticamente os combustíveis fósseis na oferta de energia mundial: trabalhadores e aposentados, economias locais e comunidades ainda dependem dos combustíveis.
Mas ressarcir os que sofrerão essa transformação não é apenas uma questão de justiça. Uma transição bem sucedida para um futuro de baixas emissões de carbono exige seu apoio. No entanto, eles continuam sendo uma preocupação secundária no debate público sobre a mudança climática.
Somente cerca de 63 mil empregos na Alemanha estão direta ou indiretamente ligados ao carvão, de uma força de trabalho total de 43 milhões. Mas eles estão bem organizados em sindicatos poderosos.
As apostas são ainda mais altas na China. É o maior consumidor mundial de carvão — queimando um volume igual ao de todos os outros países juntos. Pequim finalmente admitiu os custos para a saúde e ordenou limites à construção de geradoras que queimam carvão.
Mas os mineiros em greve na China protestaram contra os salários atrasados e os planos do governo de cortar 1,3 milhão de empregos no setor, de um total de quase 6 milhões.
Nem os países mais abertos às energias renováveis descobriram como extrair mais que uma modesta porcentagem de sua energia do vento e do sol — que não podem ser contados como fontes de energia constantes. Assim, da Alemanha à Índia, as estratégias para aumentar a porcentagem de energia renovável na matriz energética contaram com uma base de carvão.
A Índia extrai 62% de sua energia do carvão e já é o segundo maior consumidor, depois da China e à frente dos Estados Unidos. O consumo de carvão está crescendo cerca de 7% ao ano para alimentar a recuperação econômica do país.
Enquanto os ambientalistas receberam bem o anúncio feito pela Índia de que aumentaria seu investimento em energia solar, eles ficaram menos contentes com seus planos de triplicar a produção de carvão de 2013 até 2020.
A estratégia climática mundial não pode contar com a rápida substituição do carvão. Aumentar o investimento em tecnologias como captura e armazenamento de carbono pode ser indispensável para evitar um aquecimento catastrófico.
Mesmo depois de superados os obstáculos, permanecerá a dimensão humana. E esta exigirá atenção, e mais que alguns bilhões de dólares. A transição energética poderá requerer o pagamento às geradoras mais sujas para que continuem lá, como fez a Alemanha.
“Os ambientalistas têm de abordar as preocupações reais das pessoas que poderão não ficar muito bem durante a transição”, escreveu o blogueiro ambiental Craig Morris. “Um grande aquecimento até 2100 pode parecer assustador, mas não tanto quanto um desemprego crônico daqui a poucos anos.”

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