Por Monica Weinberg access_time 8 set 2016, 19h42
Há quatro meses na cadeira de ministro da Educação, o pernambucano José Mendonça Bezerra Filho, 50 anos, cumpriu nesta quinta-feira a via crucis de seus antecessores: vir a público anunciar outra nota vermelha para o ensino básico. A divulgação do Ideb, o termômetro oficial da qualidade na sala de aula, mediu a evolução em escolas públicas e particulares entre 2013 e 2015 – ou a involução, no caso do ensino médio. Deputado federal licenciado pelo DEM, Mendoncinha contou a VEJA o que pretende fazer em sua gestão para reverter a curva.
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O que pensou quando viu o monte de notas vermelhas do Ideb? Frustração e vergonha. É claro que um país com essa defasagem não conseguirá dar um salto.
Muita gente celebrou os avanços nas primeiras séries do ciclo fundamental. O senhor não? Não. Com esse desastre, não há o que comemorar mesmo.
Por que a educação brasileira não sai do buraco? Na última década, as iniciativas foram mais focadas no lado midiático e em políticas pulverizadas, que atiraram para todos os lados. Sobrou marketing e faltou transformação social para valer.
Mas o PT criou diversos programas voltados para os mais pobres, como o Fies e o Prouni. Esses programas serão preservados, mas olhe o Ciência sem Fronteiras, que enviou jovens universitários ao exterior, uma das bandeiras petistas: dragou 3 bilhões de reais para atender 35 000 alunos — o mesmo dinheiro que custa todo o programa de merenda escolar, que chega a 39 milhões de estudantes. Os grandes números demolem a ideia de que o foco petista foi nos mais pobres.
A que números o senhor se refere? Enquanto o ensino superior recebeu 30 bilhões de reais dos cofres federais, o básico ficou com um terço disso. Faltou atenção às escolas públicas.
Também faltou dinheiro? Mais dinheiro sempre ajuda, mas o maior problema é usá-lo de forma apropriada. O Ideb mostra que, infelizmente, isso não vinha acontecendo.
O que pretende mudar para livrar o Brasil do fracasso escolar? Um ponto estratégico é transformar o ensino médio, hoje engessado e ineficiente. Ele precisa ser mais flexível e atraente para o aluno.
Há chances políticas de um plano como esse, que fere tantas corporações, passar no Congresso? Acredito nisso e estou trabalhando por isso.
O Enem acompanhará estas mudanças? Nesta edição fica tudo igual. Mas haverá mudanças no Enem, que serão consequência da transformação do próprio ensino médio.
Muitas escolas e até redes de ensino não levam o Ideb em consideração. Será que agora servirá de alerta? Acho que a educação está virando um tema para os brasileiros, que já fazem pressão por avanços. Espero que entre de uma vez por todas na agenda dos futuros prefeitos.
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