sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O aluno chega de peito estufado ao início do fundamental, aos seis anos, e sai de cabeça baixa no ensino médio

ANÁLISE

Aluno chega à escola de peito estufado e sai de cabeça baixa


Provas e índices nacionais como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgado nesta quinta (8), têm mostrado aos gestores públicos que os alunos brasileiros entram na escola com pique, mas vão perdendo o gás no caminho.

Nossos estudantes vão acumulando deficiências de conteúdo ao longo da vida escolar, repetem de série, frustram-se e, ao desembocar no ensino médio, correm grande risco de largar a escola.

Hoje, metade de quem ingressa pequenininho no sistema de ensino nacional conclui o ensino médio. Estamos deixando 50% dos brasileiros pelo caminho. É muita coisa para um país que precisa tanto de médicos, de professores, de engenheiros.

O Ideb mostra que, além de não cumprir com o papel de formar adequadamente nossos meninos e meninas, a escola brasileira está, aos poucos, acabando com o gosto deles pelos estudos.


O aluno chega de peito estufado ao início do fundamental, aos seis anos, e sai de cabeça baixa no ensino médio —se conseguir conclui-lo.

No começo, animados, os pequenos tiram boas notas em disciplinas como português e matemática —usadas na composição do índice do Ideb. Depois, a coisa vai piorando. A escola fica chata.

De acordo com dados do Ideb, o país ficou estagnado em 3,7 pontos no ensino médio –o que é bem abaixo da meta de 4,3 pontos.

Com exceção do Amazonas e de Pernambuco, os demais Estados brasileiros estão longe das metas estabelecidas pelo governo para a última fase da educação básica.
Isso inclui São Paulo, o Estado mais rico do país: com 3,7 pontos no Ideb, dentro da média nacional, a rede estadual paulista tampouco alcançou os 3,9 pontos da meta prevista pelo governo.

Ora, vale lembrar o que aconteceu recentemente no Estado, quando estudantes jovens, insatisfeitos com uma reorganização escolar proposta pelo governo, ocuparam os prédios de suas instituições.
A demanda deles por uma melhor educação gritava tanto quanto as notas do Ideb: os jovens querem ser ouvidos.

Especialistas em educação sabem que alunos a partir de 12 ou 13 aos –que estão justamente no final do ensino fundamental– devem começar a participar da gestão da escola. No ensino médio, os adolescentes devem ter uma postura ativa na educação.

E, adivinhe? Alunos mais participativos têm melhor desempenho na escola, tendem a evadir menos. Basicamente, eles mantêm o peito estufado do início escolar.

Os adolescentes paulistas não queriam a reorganização e o fechamento de suas escolas, mas também não gostam da apostila que é chamada de "caderno do aluno", das aulas conservadoras em lousa e giz, das disciplinas vagas que não têm professor.

Esses meninos estão sendo ouvidos? Certamente não.
Há tempos, o ensino médio tem preocupado os especialistas e gestores de educação –o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), inclusive, surgiu em 1998 com o objetivo de mapear as falhas dessa etapa e acabou virando um grande vestibular.

Na prática, o governo não sabe exatamente o que está acontecendo com o nosso ensino médio, onde estamos derrapando e em qual parte podemos melhorar.
Fazer provas e analisar dados como os do Ideb é importante, mas ouvir nossos estudantes para formular uma nova política de educação pode ser muito mais efetivo.

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